O resultado acontece em um momento de aumento do custo de vida, com inflação subindo e juros mais altos. Especialistas ouvidos pelo G1 apontam duas razões principais para a fuga de recursos da poupança: necessidade de retirar dinheiro da aplicação para honrar compromissos em um momento econômico difícil e queda do rendimento da poupança em relação a outros investimentos.
Para o educador financeiro Edward Junior, da DSOP, algumas pessoas “precisam tirar reservas financeiras para pagar as contas em dia, com esse aumento do custo de vida e da inflação desse ano”. “Muitas pessoas já tinham ajustado suas contas para o mínimo possível e estão recorrendo à poupança para não entrar no cheque especial ou cartão de crédito”, diz o especialista. “O cheque especial está em torno de 10% ao mês. O cartão, em 13% em média."
"Não adianta ter lá o dinheiro guardado e pagando esses juros”, defende Junior. “O ideal é nunca deixar de poupar, nem que seja um valor menor do que o que está acostumado, para não perder esse hábito.”
Para o consultor financeiro André Massaro, a fuga da poupança está sendo motivada pela necessidade do brasileiro de ter liquidez (dinheiro na mão para consumir e pagar as contas). “O nível de endividamento continua alto e a atividade econômica está em retração, por isso as pessoas estão direcionando mais seus recursos para pagar dívidas e se proteger. O maior medo é perder o emprego e ficar sem renda, e a poupança fica em segundo plano”, analisa. “Está sobrando menos dinheiro para pagar a conta e ele está saindo da poupança.”
Outro fator que pesa é o aumento do nível de desemprego, diz o professor de finanças do Insper, Michael Viriato. “O brasileiro fica sem dinheiro e, como a maior parte das demissões afeta a população de renda mais baixa, essa é a faixa que tem mais parte da sua renda alocada na poupança”. Para o professor, como as famílias estão mais endividadas, elas estão tirando mais dinheiro da aplicação para cobrir estas dívidas.